PLE para Refugiados
O termo “refugiado” se aplica a qualquer pessoa que se encontra fora do país de sua nacionalidade – temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou não pode voltar a ele.
Em 2015, mais de 8 mil refugiados viviam atualmente no Brasil. Sírios são maioria entre migrantes de 80 nacionalidades que conseguem asilo, mas contam com pouca ajuda federal para encontrar moradia, emprego e aprender o idioma. O aprendizado do português é essencial para que o refugiado encontre trabalho, moradia, e possa viver. O Brasil acolhe, mas não integra os refugiados. A língua é a grande porta para esta integração necessária.
Revista Educação
Setembro/2015
Estrangeiros | Edição 221
Leia texto integral em: https://revistaeducacao.com.br/textos/221/o-caminho-da-lingua-portuguesaprofissionais-de-areas-diversas-se-dedicam-363865-1.asp
Quem são os professores voluntários de língua portuguesa para refugiados
Profissionais de áreas diversas se dedicam ao ensino do idioma a refugiados, criando metodologias com foco na integração das pessoas à cultura, ao trabalho e à educação formal
Em 2014, quando começou a coordenar cursos de português para refugiados em duas organizações diferentes na região central de São Paulo, a doutora em linguística Rosane de Sá Amado, professora da graduação em letras da Universidade de São Paulo, não imaginava o quão alta seria a rotatividade de professores com quem trabalharia. A prática de ensinar a língua oficial do Brasil àqueles que chegaram por aqui temendo guerras, conflitos e perseguições em seus países de origem mostraria a Rosane todos os desafios de começar um projeto do zero, embora o ensino do idioma para falantes de outras línguas já fosse tema de suas pesquisas na USP.
Do ano passado para cá, a pesquisadora coordenou 13 professores diferentes no curso de português para os refugiados atendidos pela Missão Paz, no bairro da Liberdade. Apesar de chegarem com boa vontade, como relata, muitos dos voluntários acabam desistindo em função das dificuldades enfrentadas, como a falta de infraestrutura e de recursos pedagógicos. Para driblar especialmente o último problema, a linguista tem ajudado a sistematizar a metodologia do curso. "Comecei na USP um projeto que visa justamente à elaboração de um material didático específico. O resultado ficará disponível on-line para quem quiser baixar", adianta a professora.
Rosane avalia que, como muitos alunos param de frequentar o curso quando encontram um emprego, é preciso pensar em métodos rápidos e eficazes. Outro aspecto que precisa ser observado é o fato de que as turmas são compostas por falantes das mais diversas línguas, como crioulo, lingala, iorubá, suaíli, árabe, hindi, urdu, inglês, francês e espanhol.
A diversidade linguística nas salas de aula de Rosane traduz os números divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) sobre os pedidos de refúgio. No ano passado, o Brasil foi o país da América Latina que mais recebeu solicitações, apesar de estar geograficamente distante dos principais conflitos e ser apenas o 75º na lista dos países com mais refugiados no mundo.
Por aqui, o registro de novos pedidos subiu 41% de 2013 para 2014. Foram 8.302 solicitantes no ano passado e 5.883 no ano anterior. O número de pedidos, porém, não é igual ao de concessões. Para se ter ideia, no país vivem hoje 7.289 refugiados reconhecidos, de 81 nacionalidades, segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão interministerial presidido pelo Ministério da Justiça.
Sírios, colombianos, angolanos e congoleses são os mais presentes, mas também há libaneses, liberianos, palestinos, iraquianos, bolivianos e serra-leonenses na população de refugiados. Os haitianos, que têm procurado o país desde o terremoto de 2010, não estão nessa conta, pois recebem visto de permanência por razões humanitárias.
Cruzada pela língua
A diferença entre a quantidade de pessoas que já conseguiram o status de refugiado e o número de solicitantes não muda a demanda pelos cursos de português. O domínio da língua é visto como um item de primeira necessidade na busca por trabalho e no acesso a serviços básicos.
O estado brasileiro que mais recebeu pedidos em 2014 (26% do total) foi São Paulo. Não à toa, o Comitê Estadual para Refugiados da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania se reuniu no último mês de maio para discutir políticas públicas voltadas a essa população, reconhecendo que a língua ainda é um obstáculo no caminho para a educação. Segundo o grupo, a Secretaria de Educação passou a mapear iniciativas de inclusão que possam ser ampliadas para a rede básica de ensino. Na capital paulista, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) está na fase de divulgação de um mapeamento da oferta específica de cursos de português para imigrantes e refugiados na cidade.
"Há uma oferta considerável de cursos para imigrantes latinos, mas quase não temos opções para o solicitante de refúgio. Por isso comemoramos sempre que um coletivo começa a oferecer aulas, ainda que na maior parte das vezes façam do jeito que dá", afirma Wendy Villalobos, gestora do projeto Trilhas da cidadania: a língua portuguesa pela cidade, que ofereceu cursos de português para esse público entre 2012 e o primeiro semestre de 2015, na região da Luz.
Durante suas cinco edições, a iniciativa ensinou 100 pessoas a falar o idioma. Com uma formação fora da área de letras - em relações internacionais, com pós-graduação em gestão de projetos -, Wendy também atuou como professora no projeto e trabalha agora em um objetivo parecido com o de Rosane: a sistematização de uma metodologia de ensino para refugiados.
Ela conta que nos últimos dois anos, o Trilhas da cidadania foi procurado por outras iniciativas interessadas em seu método, que alia sala de aula a saídas pela cidade. "Começamos em agosto uma nova etapa. Encerramos o atendimento direto das turmas, pelo menos por ora, para reunir processos da nossa experiência e publicá-los aos possíveis interessados, entendendo que não há fórmulas, mas apontamentos", explica.
Outro curso de português para refugiados que tem professores envolvidos em pensar a didática é o oferecido pelo Cursinho Popular Mafalda, na zona leste de São Paulo. "No começo não tínhamos material, fazíamos como era possível e sentíamos falta de algo um pouco mais sistematizado. Por isso, nos reunimos para confeccionar um material 100% autoral", explica o professor Leandro Almeida Lima, de 23 anos, que é formado em relações internacionais, como Wendy, e concilia um emprego de segunda a sexta com o voluntariado aos sábados no Mafalda.
Foco na fala
Os modos de organizar cada curso e a formação dos professores podem variar muito, mas há características comuns às iniciativas, como a prioridade para o desenvolvimento da oralidade e a preocupação em apresentar traços marcantes da cultura e da cidadania brasileira durante as aulas. "As pessoas estão em uma situação difícil, então as aulas precisam fazer bastante sentido. Elas pensam na família, que muitas vezes ficou nos países de origem, e em como vão trabalhar para conseguir comer. Nesse processo de se adaptar para sobreviver, a língua é muito importante e os códigos da cultura e da cidadania brasileiras também são. Por isso, fazemos um levantamento dos interesses dos alunos", conta Wendy.
Nesse contexto, o que mais acaba interessando os alunos é a dinâmica para buscar trabalho: os documentos necessários, como fazer um currículo e como se portar em uma entrevista de emprego e nas relações de trabalho.
Wendy acrescenta que o Trilhas da cidadania tinha ainda o cuidado de mostrar na prática atividades cotidianas, como pegar o metrô, ir ao posto de saúde e ao mercado. "É legal quando eles começam a se enxergar nessa história, ao perceber, por exemplo, palavras de origem africana no português brasileiro, ficando frente a frente com a influência de seus povos aqui no Brasil", afirma.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), conhecido como a Agência da ONU para Refugiados, tem o mandato de dirigir e coordenar a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas deslocadas em todo o mundo e encontrar soluções duradouras para elas.
Com objetivos modestos, iniciou seus trabalhos em 1950. Mas já ajudou dezenas de milhões de pessoas e recebeu dois Prêmios Nobel da Paz por seu trabalho humanitário.
Para quem se vê obrigado a fugir de seus lares, normalmente devido a guerras ou perseguições, a Agência da ONU para Refugiados é, frequentemente, a última esperança de um retorno a uma vida normal. Hoje em dia, com uma equipe de aproximadamente 9.300 pessoas em mais de 123 países, procura ajudar cerca de 46 milhões de pessoas em necessidade de proteção.
A situação dos refugiados residentes no Brasil é bastante complexa. Faltam locais para acolhimento; a maioria dos brasileiros – por falta de informação – não sabe ao certo quem são essas pessoas, o que acarreta casos de xenofobia; tal falta de informação também dificulta a inserção dessa população no mercado de trabalho; muitas vezes, necessidades básicas, tais como alimentação e vestimenta também fazem parte do dia-a-dia dessas pessoas.
As dificuldades são diversas. Nesse contexto, visando gerar melhores condições para integração desses solicitantes de asilo e refugiados, foi fundado, em 2010, por 3 amigos internacionalistas e pesquisadores do tema do refúgio, o Adus – Instituto de Reintegração do Refugiado.
Desde então, o instituto realiza diversas ações voltadas à conscientização, diminuindo os casos de preconceito contra essas pessoas; diversos postos de trabalho foram criadas; vagas em cursos foram logradas; muitos voluntários foram incluídos ao no grupo de colaboradores e contribuem efetivamente em ações e projetos. Solicitantes de refúgio e refugiados passaram a ter voz.
O Adus já se configura como um novo paradigma na relação entre os refugiados e a sociedade civil brasileira, atuando de forma transparente e democrática .
Sede própria
Avenida São João, 313, 11 Andar, Centro
CEP: 01035-000 - São Paulo/SP - Brasil
Cáritas Brasileira é uma das poucas entidades que prestam serviços de acolhida e integração a refugiados(as) no Brasil. A Cáritas, além de contar com inúmeros parceiros, conta a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) e com o Ministério da Justiça para a realização dos programas de Acolhimento, Proteção Legal e Integração Local. Cáritas Brasileira é uma das poucas entidades que prestam serviços de acolhida e integração a refugiados(as) no Brasil. A Cáritas, além de contar com inúmeros parceiros, conta a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) e com o Ministério da Justiça para a realização dos programas de Acolhimento, Proteção Legal e Integração Local.
A Cáritas Brasileira é uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos e excluídas em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural.